A eleição 2016 estabelece uma nova ordem na relação eleitor e
candidato.
O país viveu um lamaçal de acusações nos últimos dois anos, o
que impossibilitou o PT nas cidades, pois era o Partido que ocupava o governo
federal, núcleo da crise, mais do que isso, alguns discursos perderam força como : direitos humanos, relação de esquerda
com a ética, e influencia do Estado na atividade econômica; outros ganharam
força: como a ética no trato do serviço público, diminuição da máquina pública
e a discussão de problemas locais.
O eleitor das grandes cidades quer um representante que cuide
das coisas relacionadas à sua vida (saúde, manutenção dos logradouros,
segurança do Bairro...). As grandes discussões do modelo de Estado, economia, e
desenvolvimento, desgastaram o eleitor, na última eleição tudo o que não fosse resolver
os problemas do dia a dia, apontando os erros e soluções, soava como demagógico
e mentiroso.
A discussão agora não é mais a melhoria da Saúde, mas sim o remédio
de diabetes que falta no Posto da Vila, segurança agora é aumento de efetivo policial
no Bairro X, educação não é qualidade de ensino mais sim merenda balanceada, se
discutiu em algumas cidades até quais alimentos deveriam constar no cardápio.
Nas megalópoles como São Paulo, Rio e BH, que ultrapassam o conceito
de metrópole, em virtude da densidade demográfica e importância econômica, o
eleitor além do gerente que cuida das coisas com honestidade, queria um
candidato com conteúdo midiático, e de preferência fora da política
convencional. Para o eleitor, a necessidade de ser um herói moderno que sabe se
comunicar é a credencial para uma boa gestão.
Outra coisa que percebi nesta eleição: candidato que não tem
história bem sucedida em seus negócios particulares, ou que tenha um passado de
poucas realizações, será cada vez menos votado, bem como aquele que tem passado
de realizações mas que tenha a mancha da corrupção (rouba mas faz) terá
dificuldades para se eleger, com exceções como nos casos de se competir com
radicais extremos, governos ineficientes, ou contra adversários com níveis de
acusação maior.
O tripé: a- passado limpo (ou passado não conhecido e
divulgado), b- conhecer os problemas locais e discuti-los exaustivamente,
propondo resoluções imediatas, c- uma
postura de austeridade, fim de desperdícios
e combate a corrupção, foram o tom de discurso desta eleição e terá que
ser dos governos eleitos.
Reclamações que apareciam em eleições anteriores, referentes
à mobilidade urbana e cidades mais sustentáveis perderam força, estas são
reivindicações características de uma fase de mais prosperidade e
desenvolvimento econômico, vivemos uma crise desde 2014, possivelmente voltarão
em 2020.
Daí nasce mais um dilema, estamos em retrocesso ou as coisas
são cíclicas? O que percebo é que o posicionamento político à base de
articulações e discursos ideológicos sem realizações está cada vez mais distante
do eleitor, as ações do homem público precisam impactar o dia a dia do eleitor,
a fantasia por programas de governo de milhões e até bilhões de investimento,
acabou, pois estas grandes obras, levam o eleitor ao imaginário de cenas de
prisão por corrupção, que assistimos exaustivamente em 2016.
A percepção é que os Poderes Judiciário, Executivo e
Legislativo funcionam no modo analógico, e o mundo vive de maneira digital, o
que vem das ruas impõe uma velocidade gritante, a maioria dos poderes e
representantes públicos não acompanham tal dinamismo, o sistema político e o
modo que ele se relaciona com a sociedade é o mesmo desde a redemocratização do
país.
O que falo aqui não é de automação digital do Poder Público,
necessária também, mas sim da necessidade dos poderes se despirem da velha e
cômoda forma de comunicação, aprendendo a se relacionar com o novo tempo
estabelecido pelas redes sociais.
Querendo ou não as redes sociais democratizaram a informação,
conectou pessoas de todas as formas
segmentadas (Facebook e Whattsapp), ela
não se limita só ao acesso da informação mais a produção do conteúdo sem
restrições, com isso os grandes meios de comunicação precisaram mudar, avançar
na notícia, apontar o dedo da acusação, ouvir e interagir com o espectador, sob
pena de perder cada vez mais audiência.
Para o eleitor esse novo mundo se contrapõe ao velho, quem
mais sofre é o setor público, a distância se consolida com os discursos longos
que não dizem nada, na morosidade das decisões administrativas, na não
conclusão de obras, nos recursos judiciais infinitos, na falta de inteligência
na segurança pública, etc.
Talvez, o grande erro da maioria do setor público, esteja em
se basear numa estratégia de marketing errada, que parte de um conceito antigo de
seguir o “felling dos notáveis” (maioria das vezes um oráculo ultrapassado que não ouve as pessoas e desprezam este mundo
digital, intelectuais que orbitam num mundo perdido entre os anos 60 e 80).
Como então mudar essa relação com o eleitor? A resposta requer uma atitude de mudança
drástica, em vários níveis, aqui me reduzo à relação do eleitor e representado.
Na comunicação contemporânea, a única alternativa é realizar
pesquisas qualitativas e grupos focais pra entender o que se passa com a sociedade,
organizando um banco de dados do eleitor que seja segmentado (local, idade,
sexo, contatos, renda, etc.) e que propicie o direcionamento correto do uso das
redes sociais e outras ferramentas, produzindo conteúdo e principalmente
criando uma fácil aproximação entre o cidadão e o poder público.
Esta não é uma época de consenso para o eleitor brasileiro,
perderá na aprovação popular aquele que não se posiciona sobre temas, que não
defende causas, e principalmente aquele que é desmascarado por atitudes opostas ao que fala.
O futuro é uma flecha atirada do presente, que não resiste a nada.
Renato Dorgan Filho, 42, MBA Marketing Político, advogado,
especialista em pesquisas qualitativas, sócio-proprietário da Travessia
Estratégia e Marketing, e Diretor de Política e Estratégia do Ideia Inteligência.