No início dos anos 80 quando
começou esta mania de dividir torcida em estádios de futebol, meu saudoso pai profetizava: “Não sei onde vai parar isso”.
Vendo o que ocorreu na batalha
campal de Joenville, entre atleticanos e vascaínos, lembrei desta passagem, e
aproveito para fazer uma reflexão do que vem acontecendo a longo dos anos com o
jovem brasileiro.
O auge desta violência foi entre
os idos de 1989 e 1995, tomaram conta do Brasil naquela época mortes de
torcedores, espancamentos fora e dentro de estádios, destruição de patrimônio
público.
Analisavam que tratava-se de uma
fase social sem esperanças, com inflação em índices alarmantes, corrupção
desenfreada e principalmente falta de pulso governamental no trato dos assuntos
públicos. Uma grande verdade, época de presidente Collor, de governos estaduais
perdulários, inflação e desemprego alarmantes, crise no consumo pessoal e
deterioração da classe média brasileira.
Em meados de 1994 o real veio,
acabou com a inflação e o governo seguinte controlou o país, cortou gastos, a
violência nos estádios fora combatida pela primeira e única vez, parecia que
começaríamos um caminho de civilização em vários níveis nacionais.
Acontece que as reformas sociais
não vieram, a periferia assistia o equilíbrio da economia nacional à distância,
sem que pudesse provar de seus benefícios, já que não tinha renda, não possuía
acesso à uma educação e cultura de qualidade, o que a afastava de um mercado de
trabalho que emergia.
A violência entre torcidas
voltou, mas era quase imperceptível, pois ocorria como ainda acontece, na
periferia dos grandes centros.
No começo dos anos 2000, em meio
a uma crise política de rumo, a oposição tradicional, vence as eleições, com a
meta de promover ampla inclusão social,
que já era antes necessária e que no momento, com os devidos ajustes econômicos
e administrativos do antecessor, tinham
toda a chance de dar certo.
No primeiro momento deu certo, iniciou-se
com um amplo programa de distribuição de renda que atingiu dezenas de milhões
de pessoas, enxertando dinheiro na base da pirâmide social, aquecendo as outras
classes, um sonho para um povo que convivia com anos de escassez.
Acontece que a distribuição de
renda que era o propósito de inclusão não veio atrelada a políticas educacionais
e culturais, serviu apenas de estimuladora de um consumo sem planejamento, o que
virou o objetivo único das famílias brasileiras sejam elas da classe “B”, “C”,
ou “D”.
A notória recuperação de renda de
uma classe antes miserável, trouxe benefícios internos consideráveis à
economia, de outro lado a distribuição de bolsas para famílias com patamares levemente
superiores a um nível de pobreza, provocou um abandono da importância da
educação voltada para o trabalho, e o pior, um desestímulo do crescimento
pessoal através dele.
Uma parte dos jovens mais
carentes, verdadeiros heróis, com bases sólidas familiares, quebraram legados
de miséria, progrediram e completaram o ensino médio, sendo que em alguns casos
chegaram as universidades, aqueceram o mercado trabalhando.
Infelizmente a grande maioria
ficou pra trás.
Uma geração que na primeira
década deste século assistiu seus pais
abrirem mão de trabalhar para viver de bolsas assistenciais do governo, tomou isso como norma de formação pessoal, esses
filhos das bolsas cresceram, e chegaram
na juventude com um paradoxo de despreparo educacional e cultural e uma vontade
enorme de consumir.
Estes jovens foram educados por
games (normalmente violentos), pornografia de fácil acesso, redes sociais que
disseminam futilidades, além é claro da nociva programação da televisão aberta,
eles comem muito mal (são obesos, anêmicos ou tem músculos artificiais), usam
drogas de forma constante e se embebedam quase que diariamente.
A culpa deste caos é em primeiro
lugar do núcleo familiar ( que não impõe limites e não educa com exemplos), seguidos
do sistema educacional falido e da subcultura imposta pela grande mídia.
Acontece que esta geração que
cresce de maneira ignorante, intolerante
e insensível, se vê à frente de um país que novamente lhe dá indicativos de
desesperança. Vivemos uma crise ética e moral, um cada um por si geral, num
sistema consumista e corrupto ao extremo que reflete em todos os níveis de
convívio um espelho social do que acontece com nossas instituições.
Se a briga não for nos estádios ela
será nas ruas, e da pior maneira possível, pois sem pensamento e esperança o
que surge é o ódio.