segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Liberdade ainda que tardia.

O Brasil tem em sua formação os cacoetes da Monarquia Portuguesa espelhada na corte francesa dos Bourbon.

Sempre tivemos uma resistência com os EUA - Inglaterra, fato normal, pois a nossa formação é oposta. Isto somente mudou em dois momentos, na república do Café com Leite (no início do século XX), e um pouco a partir dos anos 90 com um governo mais liberal, menos intervencionista e mais estabilizado monetariamente.

O que choca muito uma parte da opinião pública, principalmente das classes médias do eixo Rio - SP é a volta neste século destes posicionamentos mais relativistas e populistas dos países latinos europeus que vigorou sempre por aqui.

Sonhando que se estabeleça um mundo weberiano na gestão e na economia, esta classe média se confronta com um populismo de direita e de esquerda negativo, e não aceita o humanismo e solidarismo que é positivo, pois em sua mentalidade cartesiana esta forças diversas não cabem no quadro de poder.

Esta ideia vinda do Trópico de Capricórnio acredita de maneira simplória, que assim como nos EUA e Inglaterra a política se dividirá entre conservadores (republicanos) e trabalhistas (democratas), o Direito será exato, punitivo e exemplar, a economia será livre aonde os mais fortes vencem, a estética será saxônica e o fim da sociedade é a família próspera, linda e feliz, mesmo que for a custa de grande parte da população.

Esquecem-se que a Nova Inglaterra esperada não foi formada pelo catolicismo e sim pela reforma protestante, não teve a miscigenação maravilhosa entre índios negros e brancos, não foi aceptiva a imigrantes europeus, semitas e asiáticos, e mais uma série de conceitos históricos, religiosos e antropológicos que nos distinguem.

Quero salientar que nem somos melhores nem piores por isso, temos uma identidade, mesmo que ela seja juvenil.

Querendo ou não estas classes, o Brasil se espelhará sempre de maneira inconsciente na formação  portuguesa e francesa, com ranços monárquicos de nomes e sobrenomes e autoridades, com a mistura de idealistas, humanistas, ditadores, populistas, elitistas e moralistas, espalhados e misturados em correntes de interesses individuais, e não de salvação coletiva.

O Direito é Romano, papal, imposto de cima pra baixo, injusto, a economia é mercantilista, a meta é inclusiva, ligada a fome, a expansão é um mito distante, assim podemos ser um país qualquer no contexto mundial mas aqui precisamos viver bem.

A política atual sofre com isso, de um lado os azuis buscam uma Nova Inglaterra, dividindo o mundo entre fiéis e pagãos, do outro os vermelhos aderem a uma das várias faces nacionais, inspiradas em França, o caudilhismo, a generosidade com as massas, “o deixa ver o que vai acontecer” ou “o vamos enganá-los com festas e pão”.


Precisamos urgentemente amadurecer, pois uns nos querem calcando um sapato que não cabe em nossos pés, enquanto outros não querem que nos libertemos do jugo da coroa.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Redes sociais : a origem da grande mudança.


 As redes sociais revolucionaram a mídia tradicional, existe cada vez menos o monopólio da informação, tudo é compartilhado, escrito ou visto.

Se este centralismo se enfraquece, fica cada vez mais difícil a manipulação dos grandes meios de informação, que devem analisar com muita prudência se vale a pena criar factóides e dar versões parciais a fatos políticos e sociais, sob pena de caírem em massa no descrédito das novas gerações.

As redes sociais ultrapassaram as mídias digitais tradicionais, pois o seu usuário interage constantemente, e possivelmente com o tempo acabará com a maioria da mídia escrita.

Isso não é apenas um fenômeno de tecnologia, é uma mudança social radical, por um motivo que existia mas políticos, grande mídia e elite econômica e cultural não queriam perceber: o anseio da participação ativa nos acontecimentos da sociedade.

A concentração de saber e imposição de hábitos de cima para baixo, sejam eles políticos, intelectuais ou do mercado, estão naturalmente desmantelando com a rapidez da interação. Grupos novos se formam, pessoas distantes trocam informações, virais desmontam teses e manipulações históricas.

A Rede social, principalmente o Facebook, Twitter e Youtube, colocam tudo em discussão, e concomitantemente em risco. Se a grande mídia e os grupos de poder não se atentarem que a interação e participação é o espírito que rege estas tecnologias se extinguirão.

Vou ser sincero, fico sabendo das informações por redes sociais, não tinha ânimo nem tempo de parar tudo para ligar um computador e abrir um site, ou pior, acessar sites de busca, a rede social me traz elas mastigadas, uma seleção automática pelo perfil dos que seguimos.

E a mídia impressa nisso? Você vai comprar a banca de jornal inteira e demorar horas para ler milhares de publicações? Claro que não, a informação está cada vez mais imediata, ideias estão sendo condensadas a poucos toques, artigos e reportagens gigantescas são descartados por semelhantes resumos e até ementas.

Mas a grande reflexão será: Quem controla estas redes sociais? A interação segue moldes de um futuro inclusivo e participativo, uma democracia pura, um socialismo utópico, mas na verdade é o capitalismo corporativo e as empresas privadas que a regem, com interesses gerais ditados pelas leis de mercado.

E aí reside o novo temor do futuro da informação, um admirável mundo novo em que tudo estará nos dedos de uma mão.

Renato Dorgan Filho, advogado constitucionalista, consultor em estratégia e marketing político, proprietário da agência Travessia Estratégia e Marketing Político.



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O que o povo tem a ver com isso?


                                                                                      
                                 “Ao vencedor as batatas” – Machado de Assis."


Os dois últimos meses de definição partidária para as eleições de 2014 chegaram.

Ouvimos perguntas frequentes como: A REDE se formará? Serra sairá do PSDB?  Em menos de sessenta dias saberemos.

A definição principal será o destino partidário de vários candidatos espalhados pelo país, os futuros Deputados, Senadores e Governadores.

A escolha de rumo partidário no caso de parlamentares quase sempre é numérica, num sistema proporcional distorcido a quantidade de votos para ser eleito em cada partido difere.

Outro temor nestas eleições é o fim das coligações proporcionais, se for decidido pelo Congresso ou por alguma daquelas resoluções tardias do TSE, desmontará uma série de chapas de candidaturas proporcionais, disparando cortes de eleitos e em alguns casos inviabilizando a chapa completa de alguns partidos.

O estratagema das filiações para candidaturas aos Governos Estaduais segue lógicas complexas: que misturam realidades locais, palanques federais e impossibilidades legais de composição.

E aí nos perguntamos, o que o povo tem a ver com isso? A política, num ambiente de disputa de poder tão complexo, vira um artigo de luxo, a gestão administrativa e a ação de legislar e executar torna-se uma raridade na ocupação do tempo dos mandatários do poder.

A reforma política é necessária, e urge sua realização, mas deverá ser feita numa discussão ampla e focada na simplificação do sistema, dentro de um ambiente legal e não em um palco de marketing televisivo.

O Partido que conseguir fugir deste sistema tradicional do tabuleiro do xadrez político, e atentar aos anseios da população comum, largarão com vantagem na corrida de 2014, as novas gerações clamam por perspectivas reais de futuro (inclusão social, participação na sociedade e ética e respeito com as questões coletivas e individuais), as massas sonham com serviços eficientes (impostos baixos, transporte eficiente, saúde e educação nos patamares europeus).

As ruas e casas querem serviços públicos de qualidade e não estão nem aí na complexidade dos arranjos políticos e eleitorais. Por favor atentem a isso,  que até o Papa já percebeu.

Renato Dorgan Filho, advogado constitucionalista, consultor em estratégia e marketing político, proprietário da agência Travessia Estratégia e Marketing Político.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Um novo tempo.

Até meados dos anos oitenta o status era pertencer a grupos de poder, quanto mais altos os escalões melhor, a política verbalizava isso, depois o Judiciário, a Polícia e o Exército.

O país se libertou da opressão, se redemocratizou, na largada teve uma experiência traumática com  Sarney e Collor, aí veio FHC e o fim da inflação .

Lá fora veio Clinton, a União Européia e a globalização, o liberalismo econômico virou lei.

As corporações nacionais e multinacionais viraram o grande desejo de participação, a política perdeu força, foi tomada por lobos carismáticos, a velha guarda foi ironizada, ter conteúdo tornou-se secundário e a arte de negociar virou o segredo.

Multinacionais, instituições financeiras, montadoras, empresas de energia, viraram o sonho dos estudantes, jovens e adultos, o capitalismo virou uma ordem que parecia inabalável.

Daí vieram os ataques às torres gêmeas pelo terror islâmico, e as ações da direita americana fez uma geração dos que já estavam descrentes da política, desconfiarem também das grandes corporações.

Aqui deu Lula e depois Dilma, o país remexeu, classes subiram, fisiologismo dominou, os problemas continuaram, a república perdeu força e o pragmatismo venceu.

No mundo a crise econômica veio, e expôs de vez a fragilidade do mundo corporativo, e desmascarou os reais interesses destes grupos : o lucro.

No final da primeira década deste século brotou a muda da busca da felicidade pessoal, nem a busca do poder pelo poder da política tradicional, nem a privatização total da vida resumida no ato de consumir.

O poder e o dinheiro são colocados em xeque, a luta pelo meio ambiente, pela qualidade de vida, pela ética, pelo respeito às diferenças de pensamento e agir, pelo respeito às raças, o combate a bullyngs e assédios morais tomam conta de gerações, e contaminam positivamente grande parte dos  jovens.

O triste é ver a política e as corporações nacionais tão distantes deste novo tempo, e aí está o nosso problema com o presente.