quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Reforma Política só se for de verdade.

Fala-se muito sobre reforma política, e mais precisamente sobre financiamento público de eleições, isso me parece aquele agricultor que resolveu curar a árvore cortando seus galhos mais aparentes, mas esqueceu que quando ela está podre nada adianta, tem que se cortar o mal pela raiz.

Financiamento público eleitoral abrirá vias para caixa dois nas eleições, dinheiro em espécie, uma brecha para lavanderias de empresas sonegadoras, e o pior de tudo, de setores ilegais como o crime organizado (tráfico de drogas e pessoas, jogo, prostituição, comércio de armas, etc.), a política será tomada por setores perigosos da sociedade.

O remédio inicial é o Voto Distrital, foi meu objeto de Dissertação em minha pós graduação em Direito Constitucional no ano de 2001, mas com o tempo e a prática no dia a dia político destes últimos quinze anos mudei de opinião no que se refere a sua modalidade, escrevi sobre o Voto Distrital Puro (modelo norte-americano) quando o voto para os parlamentos se reduz a eleição de escolhido pelo Distrito Eleitoral, agora sou a favor do Voto Distrital Misto.

O Voto Distrital Misto contempla o poder da representação local, não deixando nenhuma região abandonada junto aos Executivos, mas contempla também representantes partidários e de setores da sociedade, economia, terceiro setor, religiosos e ideológicos, enriquecendo a discussão parlamentar,  não a reduzindo a um mero parlamentar despachante de verbas e emendas para atender suas localidades quase sempre como uma estratégia eleitoral.

Doa a quem doer parte do problema da corrupção se resolveria com a legalização do Lobbyng e da Captação de Recursos de Campanha por consultorias especializadas e registradas em seus conselhos, a exemplo dos EUA, tirando do parlamentar a intermediação natural de interesses, ele está lá para representar o povo e  não intermediar interesses privados diretamente.

Vamos parar de nos enganar, restrições ao marketing político governamental e eleitoral é outro retrocesso, proibição a pesquisas e controle de abusos de redes sociais e de mídia idem, isso tudo se corrige quando desenvolvermos uma massa crítica em nossos cidadãos, e isso se dá através de Educação Pública de alta qualidade e acesso a Cultura, a exemplo dos sistemas educacionais dos países de primeiro mundo.

Não dá mais pra enfeitar a árvore podre ou cortar os galhos mais feios, ela precisa ser cortada na raiz e com técnicas que a permitam crescer de maneira correta, ao meu ver : Voto Distrital Misto, instituição do Lobbyng e da Captação terceirizada de Recursos de Campanha e a ampla liberdade de comunicação e informação que deverá ser ponderada pela consciência crítica de uma sociedade educada e culta, e isso é um dever primeiro do Estado e também da família.

Renato Dorgan Filho, 40 anos, MBA em Marketing Político e Comunicação Eleitoral, Consultor Político e Advogado Especializado em Direito Constitucional, Sócio Proprietário da Travessia Estratégia e Marketing.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Prometo e cumpro?


A eleição nacional mexicana de 2012 foi um marco na história republicana do país. O Partido Revolucionário Institucional, depois de doze anos afastado da presidência, lança para o cargo máximo da nação o ex-governador do Estado do México, Enrique Peña Nieto. 

Jovem, carismático e com a fama de grande gestor, comprometido com metas e prazos, o candidato tinha a tarefa de recuperar o posto de presidente para o partido que comandou o México por ininterruptos setenta e um anos (1929-2000).

O ambiente militaresco vivido no final do governo Felipe Calderón, que antecedia a contenda eleitoral, parecia insatisfatório para a população mexicana, já que apesar de um modelo repressivo e contundente no combate ao crime organizado, os índices de segurança não melhoravam e as taxas de homicídio eram crescentes. No ano de 2011, mais de quinze mil mortos eram contabilizados pelos dados da própria gestão. A avaliação do presidente, no entanto, era razoável, já que viam na sua figura alguém esforçado na busca de conter a criminalidade, mas já não acreditavam na sua capacidade para isso.

O mote, todavia, da campanha presidencial se tornou a capacidade de gestão, e nesse ínterim, o marketing de Peña Nieto foi avassalador. Com o lema “lo prometo, lo cumplo” ou seja, “se prometo, eu cumpro”, o ex-governador do estado do México, responsável pela administração de toda a região metropolitana do distrito federal mexicano, exceto a capital, mostrava sucessivas promessas que fazia em suas campanhas para o governo estadual e a concretização delas como administrador.

No pleito nacional, escorado na sua credibilidade de bom cumpridor, dada sua experiência local, Peña Nieto assume 266 compromissos de governo e em muitos deles oferece, inclusive, prazos de execução.  Atende os anseios da população mexicana por um bom gestor e não só mais alguém com boas intenções, mas que não se mostrava capaz de realizar. Com quase 40% dos votos, o candidato do PRI vence as eleições presidenciais. 

Vale lembrar, que no México a disputa se dá em turno único.

Começa o governo e os problemas se avolumam. Casos de corrupção arranham de início a imagem de grande gestor de Peña Nieto. Sua popularidade começa a descender e, na sequencia, estoura o grande escândalo das teles, em que o presidente teria pago a canais de televisão para que estes fizessem propaganda positiva de sua administração. A credibilidade do mandatário desaba e sua reprovação chega na casa de 60%.  A crise na segurança aumenta e sua capacidade de resolver os problemas caem.

Toda a perspicácia da sua comunicação usada na campanha, começa a desaparecer durante o mandato. Sua hesitação em falar dos crimes que assolam o país, gera uma incerteza no cidadão do real comprometimento do presidente da república em resolver os seus problemas. 

Mais recentemente, no caso do desaparecimento dos 43 jovens do estado de Guerrero, em que o país se mobilizou ,foi às ruas e clamou por justiça, Peña Nieto demorou onze dias para se posicionar sobre o assunto que dominou as rodas de conversa nos botequins e paleterias mexicanas.

A ausência completa de uma efetiva comunicação governamental pode por em risco toda a construção de imagem de um líder político. Pintado brilhantemente pelos seus consultores e marqueteiros com o homem da gestão, eficaz e atento aos anseios populares, Peña Nieto, hoje, vive o drama de ser considerado omisso e incapaz. 

Em 2015, a Câmara dos Deputados será renovada, e como no México o modelo do voto é distrital misto, poderemos acompanhar se a imagem negativa do presidente arranhará a de seu partido político. Se não corrigir a rota, os eleitores mexicanos prometem, e deverão cumprir, colocar o hegemônico PRI no banco de reservas de suas preferências. 

Bruno Soller (Relações Internacionais e Consultor Político)



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Eleições 2014 e as tendências para o futuro.


As eleições acabaram e a adrenalina começa a diminuir, esta foi uma eleição de disputa intensa, que se demonstrou com mais contundência nas eleições presidenciais.

Em todo o fim de pleito aparecem os comentaristas de chavões, observações do tipo: “Esta foi uma eleição atípica” ou “Esta eleição foi um marco de mudanças”, nada disso é fato, pois todas as eleições trazem mudanças.

As eleições proporcionais deste ano teve um resultado mais conservador do que as anteriores, verificou-se poucas mudanças significativas. Nas de Deputado Estadual se fortalece cada vez mais o poder distrital, fazendo quase que uma reforma política para o Sistema Eleitoral do Voto Distrital pelos costumes e não pela lei imposta, enquanto que as eleições de Deputado Federal são cada vez mais onerosas, não com os antigos gastos em materiais e divulgação, mas com o pagamento de líderes políticos, Vereadores locais e Prefeitos em troca de apoios, além das tradicionais Emendas para os municípios.

O voto se mostrou mais conservador, a volta de candidatos policialescos presentes nos anos oitenta e início de noventa voltaram com tudo. Xenofobias, tendências totalitárias e até ódios contra gêneros, raça e pessoas reapareceram nesta eleição.

Em épocas de crise existe um endireitamento natural da sociedade, ocorreu aqui no Brasil, mas foi assim em alguns países da Europa nos últimos anos, e agora nas eleições  proporcionais dos Estados Unidos, com uma ampla vitória do GOP (Partido Republicano).

O PT sofre uma crise interna e de identidade que jamais sofreu desde sua fundação, sua aprovação cai como Partido, principalmente em São Paulo um quarto do eleitorado nacional, refletido pelo péssimo desempenho de seu candidato a Governador nas urnas e pela queda no número de cadeiras para os parlamentos.

De outro lado, a oposição precisa aprender a chegar com a campanha nos pequenos centros fora do eixo sul-sudeste, nesta campanha presidencial os candidatos de oposição simplesmente não existiam em alguns locais mais distantes de grandes centros, destacam-se as regiões Norte e Nordeste do país, outro fato que parece incorrigível nas oposições, e que perdura desde 2002, é a falta de um plano de governo com propostas claras e objetivas em prol de políticas sociais.

Se discutiu poucas propostas nas eleições majoritárias e quase nenhuma nas proporcionais, falou-se muito em realizações e conquistas, a população demonstra cada vez mais que só aceita promessas e planos de governo, de quem já fez algo de objetivo, e esse sentimento de quem fez ou quem não fez é muito pessoal e em alguns casos subjetivo, e muito difícil de detectar sem a realização de pesquisas.

Os eleitores estão assistindo menos TV, assim sendo, o programa eleitoral vale menos que as inserções; o Facebook cresce cada vez mais como um consolidador de ideias e imagem, e não como um conquistador de voto; o Twitter se mostrou um divulgador de fatos e opiniões criticistas, é uma espécie de informativo relâmpago; enquanto que o Whattsapp veio pra ficar, mas não como um outdoor digital que reproduz um adesivo, que é uma função já desempenhada pelo SMS, mas sim como um veículo de divulgação de vídeos rápidos e de mensagens de conteúdo.

Os impressos (Jornal, folders e santões) continuam a funcionar como peça determinante para majoritários de cidades com pouca mídia ou com mídia tendenciosa, e essencial para proporcionais, funciona como veículo eficaz de transmissão de ideias; a carreata é uma demonstração de força em locais mais provincianos e menores, mas é arma negativa em grandes centros e locais de classe média; os cavaletes tendem a acabar, as pessoas não aceitam mais a sua presença incômoda nas vias.

Não consigo imaginar eleições futuras sem pesquisas qualitativas internas, tanto para governos, candidatos majoritários e proporcionais de opinião, as pesquisas quantitativas entrarão cada vez mais em desuso pela instabilidade eleitoral, fruto da velocidade de informações de fatos e tendências, e serão substituídas por Grupos focais, quantitativas com aspectos qualitativos e trackings.

O ano 2014 passou e com ele foi e vieram tendências, feliz 2016.

Renato Dorgan (MBA Marketing Político, Advogado Constitucionalista)